O deputado da UNITA, Nelito Ekuikui, que foi brindado – parafraseando o ministro Eugénio Laborinho – com chocolates e rebuçados no sábado durante uma manifestação em Luanda, admitiu avançar com uma queixa contra a Polícia Nacional que acusa de ter usado violência excessiva contra os manifestantes. É claro que vai ficar quietinho.
“V amos abrir um processo contra os excessos da Polícia Nacional. Temos pessoas presas desde sábado e achamos que a Polícia agiu com excesso de zelo e violência gratuita”, destacou. Tem razão. Sempre assim foi. No entanto a UNITA sabe que, como dizia Jonas Savimbi, não basta ter a força da razão quando o inimigo tem a razão da força.
Nelito Ekuikui, embora muito jovem, sabe que foi responsável pelos cerca de 80 mil angolanos torturados e assassinados em todo o país depois dos acontecimentos de 27 de Maio de 1977. Também sabe quem foi responsável pelo massacre de Luanda, em 1992, que visou o aniquilamento de cidadãos Ovimbundus e Bakongos, onde morreram 50 mil angolanos, entre os quais o vice-presidente da UNITA, Jeremias Kalandula Chitunda, o secretário-geral, Adolosi Paulo Mango Alicerces, o representante na CCPM, Elias Salupeto Pena, e o chefe dos Serviços Administrativos em Luanda, Eliseu Sapitango Chimbili.
O também secretário provincial da UNITA em Luanda salientou que havia respaldo legal para o protesto e afirmou que vão “trabalhar com os coordenadores da manifestação” e cerca de 60 advogados no sentido de “abrir um processo contra os excessos da Polícia Nacional”. Tem razão. Mas desde quando é que o MPLA respeita a razão… dos outros? Há, é claro, respaldo legal. Mas desde quando o MPLA respeita a legalidade se ela não visar o seu próprio interesse?
“O que verificámos desde o primeiro instante foi que houve violência da polícia, usou meios desproporcionais”, salientou o deputado, frisando que “o Presidente quis deixar uma mensagem muito clara de que vai reprimir manifestações, vai cortar direitos e quer ensaiar uma ditadura”.
Ensaiar uma ditadura? Em que reino vive Nelito Ekuikui para não perceber que Angola é já uma ditadura de facto, embora não o seja de jure. Ter vários partidos não é sinónimo de democracia.
Questionado sobre se a UNITA, principal força da oposição que i MPLA (ainda) permite, tenciona também formalizar um protesto no parlamento, o deputado considerou que este é um órgão legislativo, e não judicial, pelo que a queixa deve ser apresentada às autoridades de justiça. E mesmo que o assunto fosse levado à Assembleia Nacional, quem é que nela manda? Levar a questão à justiça? Quem é que nela manda?
Independentemente da ocorrência temporal, em Angola tudo está interligado, sejam as fraudes eleitorais do MPLA ou o seu vasto historial de violência onde o auge se deu com os massacres do 27 de Maio de 1977. Sendo o processo de democratização uma espinha na garganta dos ortodoxos do MPLA, cabe sempre a este partido – pela voz dos seus sipaios e chefes de posto – determinar de que lado está a razão. Aliás, reconheça-se, o MPLA sempre mostrou estar disposto a aceitar as regras democráticas desde que… ganhe sempre.
A questão é saber se os manifestantes agredido têm ou não o direito de reclamar, acusar, protestar. É óbvio que – ao contrário do que alegam – não têm. A questão é saber se o direito à manifestação faz parte de uma postura institucional ou “revolucionária”, embora ambas sejam proibidas pela Justiça, ou seja, pelo MPLA.
Aliás, como sabe Nelito Ekuikui, tudo o que de mal se passou em Angola desde o século XV até hoje é culpa da UNITA. Desde logo porque (como muito melhor explicaria o general João Lourenço) as balas das FALA matavam apenas civis e as das FAPLA só acertavam nos militares inimigos. Além disso, como também é sabido, as bombas lançadas pela Força Aérea do MPLA só atingiam alvos inimigos e nunca estruturas civis.
Mas há mais factos que dão razão às teses do MPLA. Todos sabem que a UNITA é que foi responsável pelos cerca de 80 mil angolanos torturados e assassinados em todo o país depois dos acontecimentos de 27 de Maio de 1977…
Nelito Ekuikui não se pode esquecer que verdadeiramente angolanos são apenas cidadãos do tipo Agostinho Neto, Lúcio Lara, Iko Carreira, Costa Andrade (Ndunduma), Henriques Santos (Onanbwe), Luís dos Passos da Silva Cardoso, Ludy Kissassunda, Luís Neto (Xietu), Manuel Pacavira, Beto Van-Dunem, Beto Caputo, Carlos Jorge, Tito Peliganga, Eduardo Veloso, Tony Marta etc..
Não angolanos são pessoas do tipo Alda Sachiango, Isaías Samakuva, Alcides Sakala, Jeremias Chitunda, Adolosi Paulo Mango Alicerces, Elias Salupeto Pena, Jonas Savimbi, António Dembo, Arlindo Pena “Ben Ben”, Adalberto da Costa Júnior.